Sensibilidade a cada tomada
Sensível. Não há palavra que defina melhor o olhar do diretor Eytan Fox sobre a cidade de Tel Aviv, o conflito entre judeus e palestinos e o preconceito ainda existente sobre a comunidade gay naquela região.
Apesar de todo conteúdo denso, "The bubble" ("Há-Buah", no original) é uma trama suave. O peso de todo preconceito abordado na história dos quatro amigos - os judeus Noam (Ohad Knoller), Lulu (Daniela Virtzer) e Yelli (Alon Friedman) e o palestino Ashraf (Yousef `Joe' Sweid) - é diluído em cenas de um olhar precioso. Se por um lado elas poderiam parecer agressivas, por toda violência que analisam e pelo apelo sexual, por outro, soam tão sinceras que o público passa a olhar com naturalidade a relação de Noam e Ashraf e com inquietação ambos os lados do conflito.
A produção venceu este ano o Festival de Berlim nas categorias Confédération Internationale des Cinémas d'Art et d'Essai Européens e prêmio de público na mostra Panorama. "The Bubble" é um filme que cativa a cada tomada. A câmera não se põe distante, parece dialogar com a intimidade dos atores, que contracenam em perfeita harmonia.
A temática homossexual, presente a todo instante, na verdade é pano de fundo para uma história de amor que poderia se passar em qualquer lugar do mundo onde as diferenças - religiosa, política ou econômica - sejam empecilhos para as pessoas se relacionarem. O exemplo mais clássico de uma situação como essa foi imortalizado nas palavras de Shakespeare. De fato, Eytan não nega a inspiração em Romeu & Julieta e confessa que chegou a pensar em fazer uma versão, cena a cena, da tragédia do autor inglês.
Outro ponto forte do filme é a trilha sonora, assinada por Ivri Lider. Simplesmente de uma beleza exemplar. Além de interpretações impecáveis, como as de Belle & Sebastian e da maravilhosa Keren Ann, a produção de 117 minutos traz três belas canções na voz da brasileiríssima Bebel Gilberto, são elas "All around", "Cada beijo" e "Aganju".
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