Carlos Drummond de Andrade
Caro Carlos,
escrevo esta tarde
um abraço.
um abraço não dicionarizado.
um abraço sem contusão. um
abraço de silêncios e vácuo.
(o que procuro
nos teus poemas
é o cheiro de grama
após uma tempestade
de verão.
sempre encontro mais.
teus poemas
comem todo o chão
e só é possível lê-los
oferto a nuvem).
Carlos, este abraço
é quase uma chuva. é quase cinco horas da tarde.
é quase a biblioteca desarrumada.
esse abraço é quase
um café esperando à mesa. é quase uma canção
para papéis e cartas
não escritas.
As cartas-poemas de Fabiano Calixto nos contam a amizade, demandam gestos fecundos em direção aos nossos semelhantes. Ensejam correspondências possíveis em nosso “tempo de homens partidos”.
(Fabiano Calixto. Música possível. São Paulo, Cosac Naif/ Sete Letras, 2006).
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